"Não verás país..." Ignácio de Loyola Brandão.

Torquato Neto - Jornalista e poeta piauiense.

 A cidade é esparramada, aconchegante, arborizada. Plana, o olhar alcança a imensidão. Acompanhado por Washington Novaes, fui à embocadura dos Rios Poti com o Parnaíba, silenciosos, mansos. Em um restaurante flutuante comemos casquinha de caranguejo e tomamos cerveja. Em nenhum outro lugar do mundo existe cerveja tão gelada. O silêncio absoluto era quebrado pelo chapinhar de um remo na água, um pescador solitário atravessava para o Maranhão.Figura marcante foi o cubano Francisco Lopez Sacha, por todos tratado de Sacha. Professor de teatro, culto, bem-humorado, divertido, sarcástico, ora falava das músicas dos filmes de Glauber Rocha e tentava cantar em portunhol ''Te Entrega Corisco, /eu não me entrego não'', ora nos contava a odisséia de Cabrera Infante, excelente escritor, mas que compôs um personagem, o do anticomunista feroz. Dali saltava para Pedro Gutierrez ou Alejo Carpentier. Na noite em que falei sobre inspiração na obra literária, ele se sentou e discordou de mim com poesia e graça.Quando Sacha sentava-se para comer, Domício Proença (outro conversador de escol) e eu corríamos para ficar na frente. Com que prazer ele se dedicava ao prato, com que alegria via o garçom depositar filé, picanha, e todas as carnes disponíveis. Sacha brincava: Já comi carne pelo primeiro semestre, amanhã comerei pelo segundo. Ria, ironizava Cuba, ao mesmo tempo que admira, ama, podia ir embora, não vai, é seu país.Ir a Teresina significa obrigatoriedade em dois lugares: à casa de sucos de Abrahão e à carne-de-sol do restaurante São João. Os sucos descobri por meio de Wellington Soares, contista e cronista das coisas da cidade. Seus textos desvendam Teresina, neles vi a descrição de Abrahão da Silva Gama, maranhense que chegou há 50 anos e desde então mantém a casa mais concorrida que se conhece. Pobre, rico e remediado ali se encontram. Sucos de dezenas de frutas, bacuri, buriti, cajá, tamarindo, abacate, abóbora. Sim, abóbora, nem imaginam a delícia. Ao saber que éramos um grupo de escritores, ele saiu de trás do balcão, cumprimentou cada um com uma frase. É o Otto Lara Resende local. Quando Márcia, minha mulher, estendeu a mão e sorriu, ele disse: ''A senhora vai me permitir agasalhar esse teu sorriso na minha memória para que ele possa iluminar o resto dos meus dias.'' Diz Wellington que Abrahão pertence a esse grupo de reduzido de pessoas imprescindíveis. Não saberia definir melhor. Torquato e Dobal também eram imprescindíveis.

H. Dobal - poeta piauiense

Do Abrahão fomos para a carne-de-sol. Meio-dia e o lugar começa a encher. Os carros vão passando, parando, é point. Sentamo-nos e Wellington avaliou e pediu ao garçom: ''Um quilo de carne.'' Assim se pede. Um quilo, meio quilo. A carne é tenra e saborosa e vem envolta numa camada de manteiga (líquida) de garrafa. Acompanhada pela mandioca que se desfaz, macia, a paçoca e o baião-de-dois. Assim como há pessoas imprescindíveis, também há comidas imprescindíveis.
Este ano teve Assis Brasil, Antonio Carlos Secchin, Domicio Proença Filho, Marcio Souza, Thiago de Mello, Evanildo Bechara, Washington Novaes, Chico Filho, Frei Betto, Salgado Maranhão, Geraldo Carneiro, Márcia Moraes entre outros, como se diz. Como é inverno, Teresina não ostentava a quentura do período que eles chamam de b-r-o-bró (setembro, outubro, novembro e dezembro). Estava fresco, 30 graus. A cidade é esparramada, aconchegante, arborizada. Plana, o olhar alcança a imensidão. Acompanhado por Washington Novaes, fui à embocadura dos Rios Poti com o Parnaíba, silenciosos, mansos. Em um restaurante flutuante comemos casquinha de caranguejo e tomamos cerveja. Em nenhum outro lugar do mundo existe cerveja tão gelada. O silêncio absoluto era quebrado pelo chapinhar de um remo na água, um pescador solitário atravessava para o Maranhão.

Antônio Cícero - poeta e compositor filho de piauienses

Figura marcante foi o cubano Francisco Lopez Sacha, por todos tratado de Sacha. Professor de teatro, culto, bem-humorado, divertido, sarcástico, ora falava das músicas dos filmes de Glauber Rocha e tentava cantar em portunhol ''Te Entrega Corisco, /eu não me entrego não'', ora nos contava a odisséia de Cabrera Infante, excelente escritor, mas que compôs um personagem, o do anticomunista feroz. Dali saltava para Pedro Gutierrez ou Alejo Carpentier. Na noite em que falei sobre inspiração na obra literária, ele se sentou e discordou de mim com poesia e graça.

Quando Sacha sentava-se para comer, Domício Proença (outro conversador de escol) e eu corríamos para ficar na frente. Com que prazer ele se dedicava ao prato, com que alegria via o garçom depositar filé, picanha, e todas as carnes disponíveis. Sacha brincava: Já comi carne pelo primeiro semestre, amanhã comerei pelo segundo. Ria, ironizava Cuba, ao mesmo tempo que admira, ama, podia ir embora, não vai, é seu país.
Ir a Teresina significa obrigatoriedade em dois lugares: à casa de sucos de Abrahão e à carne-de-sol do restaurante São João. Os sucos descobri por meio de Wellington Soares, contista e cronista das coisas da cidade. Seus textos desvendam Teresina, neles vi a descrição de Abrahão da Silva Gama, maranhense que chegou há 50 anos e desde então mantém a casa mais concorrida que se conhece. Pobre, rico e remediado ali se encontram. Sucos de dezenas de frutas, bacuri, buriti, cajá, tamarindo, abacate, abóbora. Sim, abóbora, nem imaginam a delícia. Ao saber que éramos um grupo de escritores, ele saiu de trás do balcão, cumprimentou cada um com uma frase. É o Otto Mara Resende local. Quando Márcia, minha mulher, estendeu a mão e sorriu, ele disse: ''A senhora vai me permitir agasalhar esse teu sorriso na minha memória para que ele possa iluminar o resto dos meus dias.'' Diz Wellington que Abrahão pertence a esse grupo de reduzido de pessoas imprescindíveis. Não saberia definir melhor. Torquato e Dobal também eram imprescindíveis.

Mário Faustino - poeta piauiense

Do Abrahão fomos para a carne-de-sol. Meio-dia e o lugar começa a encher. Os carros vão passando, parando, é point. Sentamo-nos e Wellington avaliou e pediu ao garçom: ''Um quilo de carne.'' Assim se pede. Um quilo, meio quilo. A carne é tenra e saborosa e vem envolta numa camada de manteiga (líquida) de garrafa. Acompanhada pela mandioca que se desfaz, macia, a paçoca e o baião-de-dois. Assim como há pessoas imprescindíveis, também há comidas imprescindíveis.
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