LOS ANGELES, 1 Ago (Reuters) - O escritor Gore Vidal, que encheu seus romances e
ensaios com observações agudas sobre política, sexo e cultura nos Estados
Unidos, e que travou duras disputas com rivais literários de alto nível, morreu
na terça-feira na sua casa, em Los Angeles, em decorrência de complicações de
uma pneumonia. Ele tinha 86 anos.
O legado
literário de Vidal inclui uma série de romances históricos - "Burr",
"1876", "Lincoln" e "Era Dourada" --e também a
grotesca comédia sexual de "Myra Breckinridge".
Vidal começou
a escrever aos 19 anos, quando servia como soldado no Alasca e usou suas
experiências da Segunda Guerra Mundial como base para "Williwaw". Seu
terceiro livro, "A Cidade e o Pilar", causou sensação em 1948, por
ter um homossexual assumido como protagonista.
Ao confirmar
sua morte, o site oficial do escritor publicou duas fotos dele, uma como jovem
primeiro-sargento durante a Segunda Guerra Mundial, e a outra como o
iconoclasta escritor que ele se tornaria.
Cáustico e
ególatra na mesma proporção em que era elegante e brilhante, Vidal conviveu com
alguns dos grandes escritores da sua época, e também bateu cabeça com vários
deles. Considerava Ernest Hemingway uma piada, e comparava Truman Capote a um
"animal imundo que conseguiu entrar na casa".
Mas seus
maiores inimigos literários foram o guru conservador William F. Buckley Jr. e o
romancista Norman Mailer, a quem Vidal certa vez comparou ao assassino fanático
Charles Manson.
Mailer deu
uma cabeçada em Vidal antes de uma aparição televisiva, e em outra ocasião o
atirou no chão.
Com Buckley,
o bate-boca chegou a ser transmitido ao vivo para todo o país, quando ambos
comentavam a Convenção Nacional Democrata de 1968. Vidal acusou Buckley de ser
um "pró-criptonazista", e Buckley chamou Vidal de "queer"
(algo como "bicha louca") e ameaçou socá-lo.
Vidal nunca
pareceu fazer questão de controlar seu abundante ego. Numa entrevista de 2008 à
revista Esquire, Vidal disse que as pessoas sempre ficaram impressionadas por
ele ter conhecido tanta gente famosa, de Jacqueline Kennedy a William Burroughs.
"As
pessoas sempre colocam essa frase ao contrário", disse ele. "Quer
dizer: por que não colocar da forma verdadeira: que essas pessoas vieram a me
conhecer, e queriam isso?"
Entrevista de Gore
Vidal: Raio X do Império Americano
Ronald Reagan combateu a União Soviética
chamando-lhe o “Império do Mal”. Para Gore Vidal, o “Império do Mal” não
desapareceu com a queda do comunismo: está bem e vive nos Estados Unidos da
América, onde foi criado há 50 anos, no momento em que foi liquidada a velha e
boa república. Mas claro que há de ter o seu fim. Tudo tem o seu fim, como a
raça humana, que pode muito bem ser uma coisa passageira sobre a terra. Uma
conversa cheia de otimismo.
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