terça-feira, 27 de março de 2012

EU, Augusto dos Anjos...


Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1914) nasceu na Paraíba e faleceu em Minas Gerais. Formado em Direito pela Faculdade do Recife, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde seguiu a carreira de professor, e, algum tempo depois, para Leopoldina, em Minas Gerais, onde faleceu aos trinta anos de idade.

Um dos mais originais poetas brasileiros, é também um dos mais populares, sendo seu único livro de poemas, acrescido de textos que não figuraram na primeira edição, um dos poucos sucessos de público e de crítica no Brasil.
Sua poesia lembra, pelo gosto do prosaísmo e da notação objetiva, a do poeta português Cesário Verde. Já do ponto de vista da linguagem e do tratamento dos temas, é uma continuação da poesia científica do romantismo recifense, exacerbada pela herança da linhagem realista brasileira, cuja leitura de Baudelaire enfatizou o seu comprazimento no horrível e no repulsivo.
Anatol Rosenfeld, num estudo que se destaca na bibliografia do poeta, sublinha o ar de família que a poesia de Augusto mantém com a dos seus contemporâneos alemães, os expressionistas Georg Trakl, Georg Heym e, principalmente, Gottfried Benn. Acentua especialmente, embora descartando desde logo a possibilidade de que o brasileiro conhecesse a obra do alemão, a semelhança entre a poesia do Eu e a do volume de versos de Benn, publicado no mesmo ano de 1912, Morgue. O título desse livro, na seqüência do ensaio, dá ensejo à caracterização precisa de todo esse veio poético, do qual participaria Augusto dos Anjos – por mera sincronia e origem comum em Baudelaire e no cientificismo do século, e não de derivação – como “poesia de necrotério”.
A poesia de Augusto dos Anjos consegue ser convincente e produzir efeito de discurso verossímil e pessoal, mesmo sendo articulada sobre o exagero sistemático dos traços do pessimismo de época e sobre a utilização a torto e a direito do vocabulário científico ou pseudocientífico do tempo. E é um testemunho da sua grande força o fato de ela poder ser lida com muito interesse ainda hoje, apesar de a sua forma e a sua linguagem chegarem a parecer, muitas vezes, a caricatura do que se produzira no último quarto do século XIX.

Paulo Franchetti é professor titular do Departamento de Teoria Literária da Unicamp.

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CARTA DE ESTER FIALHO DOS ANJOS (ESPOSA) À MÃE DO POETA

 A carta de Ester está ali, pedindo para ser aberta. Mensageira de notícias que - graças a Deus - têm sido boas ultimamente...


Leopoldina, 27 de novembro de 1914
Caríssima D. Mocinha,
Não me é possível descrever-lhe a grande dor que me tem causado a separação eterna do nosso querido e venerando  Augusto!
Sinhá Mocinha lê e relê este primeiro parágrafo. Há nele qualquer coisa de fatalidade. É preciso um esforço para continuar a leitura da carta que já não lhe parece conter bom alvitre.
Nunca imaginei que tão depressa Deus me reservasse um golpe tão terrível!
Quando vivíamos com descanso, gozando da companhia alegre dos nossos estremecidos filhinhos...

MAIS DESSA COMOVENTE CARTA, UMA JOIA DA LITERATURA, AQUI

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