Nascido em Ales, na ilha da Sardenha, em 1891, numa família
pobre e numerosa, Antonio Gramsci foi vítima, antes dos 2 anos, de uma doença
que o deixou corcunda e prejudicou seu crescimento. Na idade adulta, não media
mais do que 1,50 metro e sua saúde sempre foi frágil. Aos 21 anos, foi estudar
letras em Turim, onde trabalhou como jornalista de publicações de esquerda.
Militou em comissões de fábrica e ajudou a fundar o Partido Comunista Italiano
em 1921. Conheceu a mulher, Julia Schucht, em Moscou, para onde foi enviado
como representante da Internacional Comunista. Em 1926, foi preso pelo regime
fascista de Benito Mussolini. Ficou célebre a frase dita pelo juiz que o
condenou: "Temos que impedir esse cérebro de funcionar durante 20
anos". Gramsci cumpriu dez anos, morrendo numa clínica de Roma em 1937. Na
prisão, escreveu os textos reunidos em Cadernos do Cárcere e Cartas do Cárcere.
A obra de Gramsci inspirou o eurocomunismo – a linha democrática seguida pelos
partidos comunistas europeus na segunda metade do século 20 – e teve grande
influência no Brasil nos anos 1970 e 1980.
Co-fundador do Partido Comunista Italiano, Antonio Gramsci
foi uma das referências essenciais do pensamento de esquerda no século 20.
Embora comprometido com um projeto político que deveria culminar com uma
revolução proletária, Gramsci se distinguia de seus pares por desacreditar de uma
tomada do poder que não fosse precedida por mudanças de mentalidade. Para ele,
os agentes principais dessas mudanças seriam os intelectuais e um dos seus
instrumentos mais importantes, a escola.
ACESSO AO CÓDIGO DOMINANTE
O terreno da luta de hegemonias é a
sociedade civil, que compreende instituições de legitimação do poder do Estado,
como a Igreja, a escola, a família, os sindicatos e os meios de comunicação. Ao
contrário do pensamento marxista tradicional, que tende a considerar essas
instituições como reprodutoras mecânicas da ideologia do Estado, Gramsci via
nelas a possibilidade do início das transformações por intermédio do surgimento
de uma nova mentalidade ligada às classes dominadas.
Na escola prevista por Gramsci, as
classes desfavorecidas poderiam se inteirar dos códigos dominantes, a começar
pela alfabetização. A construção de uma visão de mundo que desse acesso à
condição de cidadão teria a finalidade inicial de substituir o que Gramsci
chama de senso comum – conceitos desagregados, vindos de fora e impregnados de
equívocos decorrentes da religião e do folclore. Com o termo folclore, o
pensador designa tradições que perderam o significado, mas continuam se
perpetuando. Para que o aluno adquira criticidade, Gramsci defende para os
primeiros anos de escola um currículo que lhe apresente noções instrumentais
(ler, escrever, fazer contas, conhecer os conceitos científicos) e seus
direitos e deveres de cidadão.
ELOGIO DO “ENSINO DESINTERESSADO”
Uma parte importante das reflexões de
Gramsci sobre educação foi motivada pela reforma empreendida por Giovanni
Gentile, ministro da Educação de Benito Mussolini, que reservava aos alunos das classes
altas o ensino tradicional, “completo”, e aos das classes pobres uma escola
voltada principalmente para a formação profissional. Em reação, Gramsci
defendeu a manutenção de “uma escola única inicial de cultura geral, humanista,
formativa”. Para ele, a Reforma Gentile visava predestinar o aluno a um
determinado ofício, sem dar-lhe acesso ao “ensino desinteressado” que “cria os
primeiros elementos de uma intuição do mundo, liberta de toda magia ou
bruxaria”. Ao contrário dos pedagogos da escola ativa, que defendiam a
construção do aprendizado pelos estudantes, Gramsci acreditava que, pelo menos
nos primeiros anos de estudo, o professor deveria transmitir conteúdos aos
alunos. “A escola unitária de Gramsci é a escola do trabalho, mas não no
sentido estreito do ensino profissionalizante, com o qual se aprende a operar”,
diz o pedagogo Paolo Nosella. “Em termos metafóricos, não se trata de colocar
um torno em sala de aula, mas de ler um livro sobre o significado, a história e
as implicações econômicas do torno.”
PARA PENSAR
Muitos pensadores clássicos da
educação, entre eles Comênio (1592-1670) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), subordinavam o processo
pedagógico à natureza. A própria evolução das crianças daria conta de grande
parte do aprendizado. Gramsci tinha outra idéia. "A educação é uma luta
contra os instintos ligados às funções biológicas elementares, uma luta contra
a natureza, para dominá-la e criar o homem ‘atual’ à sua época", escreveu.
Você concorda com ele ou considera equivocada a tese de que a cultura distancia
o homem da natureza? Ou será possível conciliar as duas correntes de
pensamento?
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