sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Marina Colasanti

A escritora e artista plástica Marina Colasanti nasceu em Asmara (Eritréia), na África. Seguiu para a Itália e, desde 1948 mora no Brasil. Já escreveu 33 livros, entre ensaios, contos e obras infanto-juvenis. Em 1994 ganhou dois prêmios Jabuti com os livros Rota de colisão, e Ana Z, aonde vai você?. A escritora também exerceu intensa atividade jornalística. Foi redatora do Caderno B e do Caderno Infantil, do Jornal do Brasil, de 1962 a 1973. Assinou seções nas revistas Senhor, Fatos&Fotos, Claudia, entre outras.
Eu gosto muito de textos curtos. Não sou romancista por causa disso.
E nos minicontos, às vezes, eu vou tirando tudo, vou tirando tudo que é supérfluo, tudo que é supérfluo, tira, tira, tira, estica, estica, estica… aí de repente olho: ai meu Deus, está esticado demais! Está seco demais! Agora eu tenho que pingar um pouquinho de água, tenho que inchar um pouco de volta. Porque tem um ponto certo; é que nem bolo, tem um ponto em que ele tem que ficar penetrável — ele não pode ser impenetrável senão ele rejeita o leitor. Se você insiste muito na depuração, ele pode ficar impenetrável demais. Aí tem que abrir.


Sexta-feira

Sexta-feira à noite
Os homens acariciam o clitóris das esposas
Com dedos molhados de saliva.
O mesmo gesto com que todos os dias
Contam dinheiro, papéis, documentos
E folheiam nas revistas
A vida dos seus ídolos.
Sexta-feira à noite
Os homens penetram suas esposas
Com tédio e pênis.
O mesmo tédio com que todos os dias
Enfiam o carro na garagem
O dedo no nariz
E metem a mão no bolso
Para coçar o saco.
Sexta-feira à noite
Os homens ressonam de borco
Enquanto as mulheres no escuro
Encaram seu destino
E sonham com o príncipe encantado.

Preciso, para
Preciso que um barco atravesse o mar
lá longe
para sair dessa cadeira
para esquecer esse computador
e ter olhos de sal
boca de peixe
e o vento frio batendo nas escamas.
Preciso que uma proa atravesse a carne
cá dentro
para andar sobre as águas
deitar nas ilhas e
olhar de longe esse prédio
essa sala
essa mulher sentada diante do computador
que bebe a branca luz eletrônica
e pensa no mar.

Passando dos Cinqüenta

Meu pescoço se enruga.
Imagino que seja
de mover a cabeça
para observar a vida.
E se enrugam as mãos
cansadas dos seus gestos.
E as pálpebras
apertadas no sol.
Só da boca não sei
o sentido das rugas
se dos sorrisos tantos
ou de trancar os dentes
sobre caladas coisas.

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Criação de Logos

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