sábado, 23 de outubro de 2010

Décio Pignatari - 1989!


Poeta, ensaísta, tradutor, contista, romancista, dramaturgo e professor.

Qual a diferença entre um poeta e um programador visual?

Décio: Bom... O poeta, de qualquer modo, sempre estará ancorado na palavra. Ele pode usar todos os meios que ele quiser, desde a holografia, o que você quiser. Cristal, vidro, papel, o que você quiser! Vídeo, cinema, TV, tudo o que ele quiser... Ele sempre estará ancorado na palavra. Nesse sentido, ele é poeta. Agora, há poetas não-verbais. Então ele salta o limite, ele vai para a área das artes visuais onde você pode considerar aquilo, também, poesia. Eu, de qualquer maneira, não. Eu considero que, assim que você abriu mão do universo verbal, já tem trabalhar numa outra área, que é a área da pura visualidade.

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“Como sempre, creio que os artistas nunca temerão as novas mídias. Os maus artistas, sim. Aconteceu no passado com a fotografia. Os maus artistas disseram: “perdemos o emprego!” E, depois, quando veio o cinema, o pessoal mau do teatro disse: “acabou o teatro!” Na verdade, as novas tecnologias propiciam uma quantidade e uma qualidade diferentes. Muita gente é artista, não só aqueles que se lançam ou que estão numa Bienal ou que expõem ou que estão entre o circuito de alguma mídia impressa. Há um número enorme de gente fazendo arte, utilizando essas mídias que vão ficando ao alcance de multidões, desde o vídeo, a fotografia, daqui a pouco será a holografia... Quer dizer, a televisão virou hoje aquilo que seria a máquina Kodak das crianças, né? Hoje, os micros [computadores] estão nas mãos das crianças, os videojogos são fascinantes e você pode criar quantas coisas ali, como... A criança adquire toda uma mentalidade diferente, rápida, de inteligência sensível, dialogando com a mídia eletrônica. Acho que é com o tempo mesmo. Você vai ter a televisão a cabo, vai ter televisão de tudo quanto é tipo... Um belo dia, as grandes redes não serão muito importantes. É preciso legalizar as TVs e rádios piratas. Um nome, aliás, muito mal dado, pois são mídias alternativas importantíssimas! As mídias de sinal fraco é que permitem você ter, facilmente, muitas emissoras de rádio e TV num município. Para romper, exatamente, esse grande guarda-chuva de chumbo das grandes [enfatiza] organizações, então você as combate através de uma eletrônica quase artesanal, que fale dos problemas mais imediatos até do seu bairro, do seu município e tal. Isso virá!”.

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“A palavra escrita no Brasil está em expansão. No sentido de que, na verdade, a palavra escrita é uma mídia nova. E saber ler e escrever é know-how. É tecnologia de base. Se você não sabe ler nem escrever, você não pode avançar. Porque certas informações, se você não sabe ler nem escrever, você não pode. Então, ela é uma mídia nova e é mais do que isso: é uma mídia instrumental. Não é uma mídia só de entretenimento, ela é uma mídia instrumental. Ela é nova e importante, então ela está em expansão. E coisa curiosa: como a gente lembra o Bogdanovich [um dos grandes nomes da "Nova Hollywood", geração de cineastas formada nos anos 1970 nos Estados Unidos] no Last picture show - A última sessão de cinema -, acabou o cinema, a televisão chegou e matou o cinema e hoje nós vemos ao contrário. Começam a construir de novo salas de cinema, nos Estados Unidos aumenta a freqüência ao cinema, no Brasil as salas de cinema voltam a ser construídas... Quer dizer, não há essa matança da mídia anterior. Num dado momento ela domina e depois ela tem que dialogar com as outras mídias”.

Entrevista na TV Cultura.

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Capa de minha autoria para ilustrar o post

Contato
[41]3076-7631

5 comentários:

Cineas Santos disse...

João de Deus: honestamente,acho que você está no patamar dos melhores artistas gráficos do Brasil. Sei que elogio e xixi de cachorro têm o mesmo valor, mas é bom saber que o nosso trabalho tem qualidade. O seu tem. Afirmo e confirmo. velho Ancião

Cleber José Pacheco disse...

Gostei muito da entrevista do Décio.

mario pirata disse...

Parabéns pelo blog!
Vou seguir os passos da aventura.

Flávio Ferrarini disse...

Salve, prezadíssimo!
Achei teu blog e nem preciso dizer que achei genial.
Se puder acessar minha página e me retornar com teus comentários, fico muito agradecido.
www.flavioluisferrarini.com.br
Receba o abraço vasto aqui de Flores da Cunha (RS), a Terra do Galo.
Flávio

Alzira Guedes disse...

Pena essa feira não estar aqui, Porto, Portugal. Valia a pena. O seu blog é espectacular. Já o divulguei em redes sociais e em blogs pessoais.
Continuação de bom trabalho e continue a apostar na qualidade.


Melhores cumprimentos,


Alzira Guedes

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