sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Rubem Fonseca


"Rubem Fonseca é provavelmente o escritor vivo mais estudado fora do Brasil. Tomando-se a literatura brasileira de todos os tempos, talvez ele só perca para Clarice Lispector. Ele é hoje considerado um mestre da ficção policial em escala mundial, e seus livros fazem parte do cânone da literatura latino-americana." Quem afirma é o americano Thomas Waldemer, diretor do Departamento de Estudos Latinos da Universidade de Iowa.
Trecho do primeiro capítulo de "O Seminarista"
O último livro de Rubem Fonseca narra não a história de um menino mandado para um colégio interno, nem de uma família que luta para sobreviver meio à seca, muito menos é um tratado histórico-geográfico sobre uma revolução, mas sim a história de um matador profissional, o melhor de todos – O Especialista, como é chamado -  que decide largar a profissão. Seu nome é José, um ex-seminarista que fora expulso por comportamento libidinoso.
O Despachante diz quem é o freguês, me dá as coordenadas e eu faço o serviço. Antes de entrar no que interessa - Kirsten, Ziff, D.S., Sangue de Boi - eu vou contar como foram alguns dos meus serviços.

O último foi na véspera do Natal. O Despachante deu- -me um endereço e disse onde encontrar o freguês, que estava dando uma festa para um monte de gente. Bastava chegar com um embrulho de papel colorido que eu entrava na casa. O Despachante era um cara magro e alto, muito branco, louro, e estava sempre de terno preto, camisa branca, gravata preta e óculos escuros. Ele me pagava bem.

''O freguês está vestido de Papai Noel e tem uma berruga no rosto ao lado direito do nariz.''

Sempre odiei, desde criança, esses papais-noéis fazendo Ô! Ô! Ô! Sei que o ódio é um surto de insanidade, como disse Horácio, Ira furor brevis est, mas ninguém está livre dele. Vesti uma roupa alinhada, peguei uma caixa vazia e fiz um enorme embrulho de presente. Coloquei sob a camisa a minha Beretta com silenciador e toquei a campainha da casa do freguês...
ASSISTA O VÍDEO E OUÇA O PRÓPRIO RUBEM CONTANDO ESTE ASSASSINATO POR ENCOMENDA. SINISTRO.

Um comentário:

zan disse...

Rubens Fonseca é um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos... Um clássico, diria... Agora, enriquecer e viver nababescamente como ele vive, de escrever sobre a miséria humana da violência, da intolerância e do desamor, é cruelmente paradoxal, mas perfeitamente compreensível do ponto de vista de uma sociedade que aplaude o "sucesso" acima de qualquer coisa... Seus personagens, ao contrário dele, que é, segundo os que privam de sua privilegiada intimidade, uma criatura adorável, são psicopatas bem delineados por sua pena, criaturas que reagem ao discurso de algum deslumbrado se auto-enaltecendo com um prosaico "grande merda...", que pra mim é o mínimo que eu consigo achar interessante no "conjunto da obra" do grande e maravilhoso mestre da ficção que todo mundo baba e admira e eu invejosamente reajo da mesma forma que seus personagens diante disso:"grande merda..."

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