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Resenha do livro “O Túnel” de Ernesto Sabato
Por Eduardo Silveira de Menezes
Não havia lido nada escrito por Ernesto Sabato, doutor em física, que deixou a carreira científica para enveredar pela arte. No livro “O Túnel”, impressiona a forma simples com que o autor trabalha sentimentos comuns a todos os seres humanos, tais como o ciúme e a possessividade, os quais tomam ares de seriedade e conduzem o personagem à loucura.
O livro é intenso. Não permite ao leitor pausas para respirar. A cada página a interação entre leitor e personagem torna-se profunda. A história do assassinato de Maria Iribarne, contada pelo próprio criminoso, Juan Pablo Castel, é uma estratégia utilizada pelo autor para conversar diretamente com os leitores, enquanto expõe as angústias e o sofrimento da personagem.
Não há suspense e romance melhor do que aquele que, embora seja previsível, ainda surpreenda. É isso que ocorre neste livro. Nas primeiras linhas o criminoso já assume: “bastará dizer que sou Juan Pablo Castel, o pintor que matou Maria Iribarne...”. Porém, é no encadeamento, nada lógico, e no conflito constante de idéias, que iremos nos deparar com as formas mais complexas que a vida amorosa pode assumir e, ainda, com as experiências mais sinceras que a solidão pode proporcionar.
O nosso protagonista, no entanto, não se envergonha ou lastima por ser assim – um ser afastado de todos e de tudo - muito pelo contrário, ele sente orgulho de sua característica. Sente, na verdade, verdadeira repulsa à sociedade e às relações humanas, as quais julga ser, ao mesmo tempo, sujas e opulentas.
Castel impressiona em todos os sentidos. Faz com que o leitor releia a própria condição humana através da experiência contida em uma perspectiva de sociedade, sendo esta traçada pela visão de um solitário e idealista do amor.
Nada escapa as conjeturas deste incrível personagem. Capaz de refletir várias vezes antes de tomar uma atitude e, mesmo assim, incapaz de pensar quando está cego de amor e de raiva, proferindo sentenças das quais se arrependerá amargamente. Processo realizado antes mesmo de tê-las dito, mas sem conseguir conter tais afirmações.
É preciso ler esta breve história de confissão de um criminoso, nada comum, sem dar muito espaço à razão; o momento é dado à insensatez. O pintor, que segue sua jornada de incompreensão mesmo dentro de uma cela, entende que foi possuído de ódio, desprezo e compaixão; sofre de um amor próprio doentio, mas não entende o que levou o marido traído de Maria Iribarne, após saber de tudo, cometer suicídio.
É um perspicaz investigador de si mesmo, porém, não consegue compreender os sentimentos dos outros.
Eduardo Menezes é jornalista, Mestrando em Comunicação do Programa de Pós Graduação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
2 comentários:
Cheguei e me encantei com as resenhas e o seu trabalho. estarei sempre por aqui. Bom Feriadim!
Um grande escritor era o Ernesto Sábato. A resenha está muito boa.
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