terça-feira, 25 de outubro de 2011

Desgracida


Com seu estilo inconfundível, Dalton Trevisan prova, mais uma vez, porque é considerado um dos maiores contistas brasileiros contemporâneos. Vencedor do Prêmio Portugal Telecom 2003 com Pico na veia e do prêmio Clarice Lispector da Fundação Biblioteca Nacional 2008 por O maníaco do olho verde, o autor volta a desfiar em DESGRACIDA sua linguagem mordaz e humor cáustico, ao abordar as várias facetas da condição humana.

Dividido em duas partes, o livro começa por Ministórias — uma seleção de textos inéditos do Vampiro de Curitiba, que reafirmam a idéia de Dalton de que só chegaria à perfeição quando compusesse histórias completas com apenas duas ou três linhas. A cada novo livro, seu texto é mais enxuto, conciso — magro, sem por isso ser inane. Aqui, literalmente, para bom entendedor, meia-palavra basta.
 
A consagrada ironia cortante e o habitual sarcasmo de suas histórias estão presentes em 90 microcontos — alguns de apenas uma frase — que transmitem todas as aflições e alegrias de homens e mulheres, com erotismo intenso e diálogos incomuns. Uma coletânea de histórias que retrata a realidade do Brasil hoje, os desastres do amor, as cenas da vida cotidiana, os infernos particulares, a guerra dos sexos.

Na segunda parte, Mal traçadas linhas, são reproduzidos textos de antigas cartas enviadas a amigos, como Pedro Nava, Rubem Braga e Otto Lara Rezende. Nestas correspondências, o então jovem escritor comete alguns “sacrilégios” em relação a algumas obras hoje consagradas. Em um texto endereçado ao amigo Otto, por exemplo, propõe: “Falemos mal do Grande Sertão. Rompe você ou começo eu?”, para depois prosseguir: “Um cronista genial, a mão leve de beija-flor, mas — ai de mim  romancista menor”. 

As cartas trocadas com os célebres interlocutores revelam um pouco mais sobre as idéias do recluso escritor curitibano, avesso a entrevistas, que coleciona uma legião de fãs que cresce proporcional a sua aparente timidez. Quanto mais se recusa a aparecer, mais ansiosos por sua próxima obra crítica e público se tornam. Toda informação sobre o autor é breve e autônoma, retalho que se une a outros para formar uma peça homogênea — tal como muitos de seus livros.

DESGRACIDA é mais uma peça indispensável deste quebra-cabeça que é a genial obra de Dalton Trevisan.

Fonte:   Editora Record  



“DESGRACIDA” COMENTADA 


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