quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

"Não Verás País Nenhum ..."



por Devanil Júnior

Você já leu 1984? Esse livro incrível é a versão brasileira desse grande clássico da literatura mundial. Ignácio de Loyola Brandão não perde nada para um George Orwell, e dá um espírito brasileiro a história, que fica até difícil projetar isso no Brasil. E qual a característica mais importante do nosso país? Certamente, anatureza e toda sua biodiversidade. Ele projeto um futuro caótico, onde a Amazônia vira deserto por causa da cultura de achar que floresta não serve pra nada.
Até parece que falamos do presente, não é? Foi um livro escrito em1981, onde o que preocupava a população mundial eram as armas nucleares, e brilhantemente Loyola Brandão antecipa um futuro onde teríamos que ir comprar cheiros artificiais da natureza, das plantas, das flores, da chuva e da terra molhada, pois tudo isso é utopia nesse cenário que parece ser para onde rumamos.
É um gênero em vários, uma ficção científica, romance policial de aventuras e de amor, um documento sobre o meio ambiente… É um livro diferente, daqueles que nos fazem pensar e entretém, com uma pitada de humor e ironia profunda, fazendo desse livro um retrato sobre a uma sociedade brasileira que se curvou à ignorância.
O personagem que narra a história é Souza, muito parecido com Winston, de 1984, onde é considerado o “último homem da Europa“. Aqui, Souza seria o “último homem do Brasil“, mas ainda sim, durante a história, aparecem alguns personagens que também não estão satisfeitos com a ditadura. As semelhanças são tantas, como o trabalho de Souza, o romance no meio das aventuras, os tipos de pensamento que o narrador tem, que parece uma cópia de George Orwell.
Podemos não prestar muita atenção na semelhança e ver as singularidades: O Esquema controla o país, e gera uma desigualdade social gritante, e faz com que a população acredite em tudo que é dito. Uma das principais promessas desse governo ditatorial é a construção de Marquises, para onde o povo iria viver com dignidade. No final do livro nós percebemos que não é bem assim. As cidades estão totalmente sitiadas. Depois de um dia de congestionamentos enormes, as ruas se transformaram em um grande parque de sucata, e apodreceram ali, realidade próxima para metrópoles brasileiras. Todo o Brasil está planificado, não existem mais montanhas, nem serras: é tudo plano. Boa parte do território foi vendida a outros países.
A alienação do povo é tanta, que foi criado um poder paralelo, os Civiltares, que supervisiona qualquer atividade suspeita. O sobrinho de Souza é um militar que defende o Esquema, ele tem o papel de contrapeso no livro, e também coloca Souza em uma aventura nada agradável. Tadeu, amigo do tempo em que Souza dava aula de História, antes de ser afastado, aparece poucas vezes, e também representa o saudosismo dos antigos tempos. Sua mulher, Adelaide, é fria e apática, no decorrer da história o seu marido entende o porque.
Além de todos os problemas sociais, os ambientais, como câncer de pelo, furos na mão, deformações por acidentes nucleares e vários tipos de aberrações nos fazem pensar no papel do meio ambiente hoje. Paradoxalmente rumamos a esse tipo de situação: 40% de toda a terra já foi devastada, e o Brasil segue nesse ritmo, com a ideologia de transformar a Amazônia num centro de desenvolvimento predatório.
O final é brilhante, não vou contar para não conter spoiler, mas a última folha é uma situação de Galileu, que demonstra que o homem, por mais forte e inteligente que seja, não vencerá a natureza:
“Eppur, si muove” (Contudo,se move) acredita-se que Galileu tenha dito isto depois de ser forçado pela Igreja a negar a teoria heliocêntrica
Verás Mais País Como Esse... AQUI
Caricatura: João de Deus Netto

Um comentário:

cecília de mariz disse...

Sou gde apreciadora deste blog. No momento sinto falta de informações sobre a Fliporto 2012. Qual será a data?
Obrigada,
Cecy B. Campos

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