O escritor inglês influenciou Dostoiévski e Kafka, era amado pelo alemão Karl Marx, se tornou tão conhecido quanto Shakespeare e Jane Austen e vivia de sua literatura
por Euler de França Belém
Depois de William Shakespeare, Charles Dickens, nascido há 200 anos, talvez seja o escritor mais importante da Inglaterra. Seu biógrafo mais recente, Peter Ackroyd, autor do cartapácio “Dickens — O Observador Solitário” (livro inédito no Brasil), garante que o escritor foi a primeira celebridade global. O crítico norte-americano Harold Bloom, no livro “Gênio — Os 100 Autores Mais Criativos da História da Literatura”, pensa parecido: “Na Era da Informação, Dickens perde apenas para Shakespeare e Jane Austen, na condição de únicos escritores patentemente capazes de sobreviver ao domínio dos novos meios de comunicação. Em todo o mundo, Dickens perde apenas para Shakespeare, na qualidade de autor universal”. Mas o primeiro a se tornar universal, paradoxalmente, não foi Shakespeare ou Austen, esta redescoberta via cinema, e sim Dickens, na versão de Ackroyd. O autor influenciou, entre outros, Dostoiévski e Kafka, que o idolatrava. Curiosamente, Bloom bebe nas interpretações pioneiras de Edmund Wilson, autor do seminal ensaio “Dickens: os dois Scrooges”, de 60 páginas, mas não o cita. O texto está no livro “11 Ensaios — Literatura, Política, História” (Companhia das Letras, com excelente tradução de José Paulo Paes). Escrito em 1939, o artigo promoveu um verdadeiro resgate do autor de “As Aventuras do Sr. Pickwick” como escritor sério, não apenas um criador de histórias típicas de entretenimento. A Inglaterra comemora os 200 anos do nascimento do criador de “David Copperfield” com exposição e lançamento de livros. Os jornais europeus, como “The Guardian” e “El País”, publicaram uma série de reportagens e análises sobre a vida e a obra do homem que encantou gerações com “Oliver Twist”. Uso como base textos do “El País”, citando eventualmente Bloom e Wilson.
Karl Marx adorava ler as obras de Dickens e escreveu que o autor de “Grandes Esperanças” “havia proclamado mais verdades de fundo social e político que todos os discursos de profissionais da política, agitadores e moralistas juntos”. Wilson notou que a paixão de Dickens pelos deserdados tem origem na sua infância. O pai, um gastador inveterado, foi preso por causa de dívidas e Dickens teve de trabalhar numa fábrica de graxa. O menino de 12 sentia-se humilhado e desesperado. A crise pessoal foi transplantada à sua literatura, repleta de dor e alegria. Seu primeiro biógrafo, John Forster, autor de “The Live of Charles Dickens”, escreveu que “David Copperfield” é “filho” do trabalho do menino operário. O “problema” formou Dickens como escritor e homem. “O maior autor dramático que a Inglaterra teve desde Shakespeare”, pontuou Wilson, é filho de sua infância. O poeta Wordsworth acertou quando sugeriu que o menino é o pai do homem.
Karl Marx adorava ler as obras de Dickens e escreveu que o autor de “Grandes Esperanças” “havia proclamado mais verdades de fundo social e político que todos os discursos de profissionais da política, agitadores e moralistas juntos”. Wilson notou que a paixão de Dickens pelos deserdados tem origem na sua infância. O pai, um gastador inveterado, foi preso por causa de dívidas e Dickens teve de trabalhar numa fábrica de graxa. O menino de 12 sentia-se humilhado e desesperado. A crise pessoal foi transplantada à sua literatura, repleta de dor e alegria. Seu primeiro biógrafo, John Forster, autor de “The Live of Charles Dickens”, escreveu que “David Copperfield” é “filho” do trabalho do menino operário. O “problema” formou Dickens como escritor e homem. “O maior autor dramático que a Inglaterra teve desde Shakespeare”, pontuou Wilson, é filho de sua infância. O poeta Wordsworth acertou quando sugeriu que o menino é o pai do homem.
Além de escritor, Dickens foi jornalista. O sucesso de “As Aventuras do Sr. Pickwick” permitiu que ele se dedicasse à literatura a partir de 1836. Mas a fama chegou com “Os Contos de Natal”, em 1843. Esteve na Itália, na França e nos Estados Unidos, onde fez leituras públicas e ganhou muito dinheiro. “Ganhar dinheiro foi uma das obsessões de sua vida”, anota Guillermo Altares, do “El País”.
Em termos pessoais, Dickens era um homem complicado. Casou-se com Catherine, de quem se divorciou, e manteve um relacionamento com a atriz Nelly Ternan (no livro de Wilson, é Ellen). Teve dez filhos. Alguns se endividavam e ele tinha de pagar os credores. Tinha o hábito de fazer caminhadas noturnas e percorria, durante horas, até 30 quilômetros. Faleceu aos 58 anos, em 9 de junho de 1870. Estava esgotado, mas produzia muito. “Duzentos anos depois de sua morte, Charles Dickens segue guardando seu maior segredo: a essência de sua energia”, escreveu a ensaísta Verlyn Klinkenborg, no “New York Times”.
Caricatura: João de Deus Netto - BlogPicinez
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3 comentários:
João, seu blog está muito bonito. Textos excelentes e caricaturas maravilhosas, próprias de quem tem sensibilidade.
Abraços
Márcia
Rico de informações, o texto do Euler. Gozado como permanece mesmo em Dickens o rótulo de escritor de narrativas de entretenimento. E de vez em quando surgem artigos na imprensa destacando sua qualidade... Vou atrás das matérias do El País (que jornal!) e do ensaio do genial Edmund Wilson.
Abraços
Arthur
Que maravilha, o reconhecimento de vocês! Precisam ver mais, depois desta distinção.
Incentivo da melhor qualidade.
Obrigado e abrações!!!
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