quinta-feira, 15 de março de 2012

A CECÍLIA MEIRELES EDUCADORA

"Nasci no Rio de Janeiro, três meses depois da morte do meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas ao mesmo tempo me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno. Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento da minha personalidade."
A partir de 1925, a educadora Cecília Meireles se sobressai à poeta. Em 1927, ela publica a prosa poética CRIANÇA, MEU AMOR, livro que posteriormente seria indicado como leitura oficial nas escolas. Dois anos depois, ela se candidata à cátedra de literatura da Escola Normal, mas o cargo, de acordo com as cabeças pensantes, destinava-se a alguém reconhecidamente católico. Cecília concorre à vaga com a tese O ESPÍRITO VITORIOSO, um trabalho liberal onde discorria sobre a liberdade individual na sociedade. Perde para um técnico em educação sem qualquer pretensão literária, perfil que agradava mais aos "eleitores" da vaga a que Cecília Meireles concorria.

A despeito de perseguições mais ou menos veladas, e de dificuldades financeiras, Cecília Meireles luta ainda mais pela renovação educacional vigente. Entre junho de 1930 e janeiro de 33, dirige a Página da Educação no Diário de Notícias do Rio de Janeiro. Em seus artigos sobre política, educação e cultura, defende uma política menos casuísta e uma educação moderna. Cecília rompe tabus de uma sociedade, deixando sua marca na História Brasileira como defensora da idéia universal de democracia, numa década em que o mundo vive o período de transição das duas Grandes Guerras. No Brasil, Vargas sai-se vitorioso na Revolução de 30.


PÁGINA DE EDUCAÇÃO

Diário de Notícias, 6 de maio, 1931. Fragmento:

"Mas, enquanto uma reforma do Ensino Primário, como a que nos deixou o governo findo, nos promete - embora da sombra e da frialdade a que a condenaram - uma era nova, e de real importância, para a nossa nacionalidade, o regime atual, que tanto tem invocado a Liberdade como sua padroeira, nos coloca nas velhas situações de rotina, de cativeiro e de atraso que aos olhos atônitos do mundo proclamarão, só por si, o formidável fracasso da nossa revolução... Veio o sr. Francisco Campos com o seu feixe de reformas na mão. E, em cada feixe, pontudos espinhos de taxas... E esperávamos uma reforma de finalidades, de ideologia, de democratização máxima do ensino, da escola única - todas essas coisas que a gente precisa conhecer antes de ser ministro da educação...Depois veio o decretozinho do ensino religioso. Um decretozinho provinciano, para agradar alguns curas, e atrair algumas ovelhas...decreto em que fermentam os mais nocivos efeitos para a nossa pátria e para a humanidade. Chama-se a isto ser liberal. Fala-se da religião como de um movimento de liberdade. Liberdade! Oh! mas, afinal, sejamos coerentes. Façamos o déspota. Façamos o vizir. Façamos, de certo modo, o César do século 20. Mas conservemos a significação dos nomes!"
Cecília Meireles


MAIS POESIA DE CECÍLIA MEIRELES  AQUI e AQUI

Um comentário:

Mossheb disse...

Itália, Espanha, Portugal, Brasil, América Latina...A igreja de Roma fez um estrago dos diabos ao longo de 500 anos de conluios na propagação e manutenção do analfabetismo, atraso... Tudo o que os coronéis dos bolsões de miséria sempre quiseram. Ficava mais fácil o fetiche à inúteis estátuas milagreiras, alicerce da igreja de origem pagã. Acabou.

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