por Pedro Corrêa do Lago
Olavo Bilac foi objeto de uma
admiração apaixonada entre os brasileiros letrados nascidos no começo do século
passado. Ainda hoje admirado como o maior poeta parnasiano do Brasil, Bilac foi
eleito, em 1907, “príncipe dos poetas brasileiros”, título que hoje soa algo
cafona, mas que em seu tempo foi tido como uma grande consagração. Bilac é
autor de alguns dos versos mais famosos da poesia brasileira e várias gerações
aprenderam de cor seus poemas.
Sua fortuna crítica entrou em certo declínio a partir
dos anos 60, mas as últimas décadas devolveram-lhe o papel de destaque que
lhe cabe, como grande criador no estilo que prevaleceu em seu tempo, e que
Bilac ajudou a firmar. A homossexualidade provável de Bilac era naturalmente
ocultada por este, mas parece ter sido comentada abertamente por seus
contemporâneos, como comprova uma famosa charge de Seth publicada numa revista
ilustrada em 1911, na qual o poeta aparece apontando para as costas empinadas
de uma estátua de efebo grego e observando: "Ah! Se todos os homens fossem
assim...".
Aos 22 anos, Bilac, que talvez ainda não se soubesse
homossexual, apaixonou-se e tornou-se noivo de Amélia de Oliveira, irmã de
Alberto de Oliveira, cuja poesia parnasiana talvez só perca em qualidade para a
de Bilac. Nessa ocasião, louco de felicidade, Bilac escreve de São Paulo a
carta famosa reproduzida nesta página, dirigida a Luiz de Oliveira,
outro irmão de sua noiva, para comunicar-lhe o ocorrido, carta que vale a
pena transcrever na íntegra:
“Meu querido Luiz
Cheguei ontem do Rio, onde fui passar
oito dias. Cá estou de novo n’esta medonha Paulicéa. Que inferno!
Participo-te que sexta-feira passada, 11 de Novembro de
87, ás 2 horas e 35 minutos da tarde, ficou sendo minha noiva tua irmã Amélia.
Minha noiva, leste bem? Minha noiva! É a primeira vez que escrevo estas duas
palavras. Minha noiva! Como estou feliz! Como é bom viver! Como é bom amar e
ser amado!
Manda-me dizer se ficas satisfeito com a notícia, e se
ainda és meu amigo, Luiz. Escreve-me, assim que receberes esta carta, para o
Diário Mercantil, S. Paulo. Fico ansioso pela tua resposta. Tenho lido a Vida
Literária. Estás um poeta de mão cheia. Abraço-te. Escreve-me, escreve-me,
escreve-me... AQUI
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