sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Ruy Castro


Marco Lacerda: Ruy, pesquisando no Google, que é a enciclopédia Barsa desses tempos internáuticos, li mais de uma vez que você é considerado o maior biógrafo brasileiro de todos os tempos. Você aceita esse reconhecimento sem nenhuma objeção?

Ruy Castro: Não concordo, absolutamente. Tivemos grandes biógrafos no passado, infelizmente pouco lembrados hoje, como Otávio Tarquínio de Souza, que biografou todas as figuras do império. Outro nome importante é o Raimundo Magalhães Júnior, que retratou a vida de grande parte da república velha.
Acredito que faço um bom trabalho, mas dentro das minhas limitações. Não assumo o papel de historiador, sou apenas um curioso da história. Quando preciso dar respaldo histórico para algum momento da vida dos meus biografados, não tenho o menor problema em consultar amigos como a Isabel Lustosa ou o Alberto da Costa e Silva, que são grandes historiadores.
Considero a biografia como um ramo da história, que não se confunde com a literatura, nem com o jornalismo e nem com a própria história.

Lacerda: Das biografias que você escreveu qual foi a que te deu mais trabalho e qual a que te deu mais prazer?
Castro: A que dá mais trabalho, por incrível que pareça, é a que dá mais prazer. Mas antes de responder a sua pergunta, vou dizer a que me deu menos trabalho - a biografia do Nelson Rodrigues. Esta obra, comparada com as biografias do Garrincha e da Carmem, foi facílima de fazer. O motivo é simples: Nelson era escritor, teatrólogo, intelectual e jornalista. Além disso, vivia cercado de pessoas parecidas com ele, com muitas coisas a dizer, que também escreviam e davam entrevistas. O próprio Nelson deu incontáveis entrevistas.
No caso do Garrincha, foi mais difícil porque estava lidando com um personagem que falava muito pouco e praticamente não dava entrevista. As poucas vezes que a imprensa publicava palavras do jogador, eram todas inventadas pelo repórter. Como havia muito folclore, deu um trabalho enorme para limpar e tirar todas as histórias idiotas, sem nenhuma base na realidade, que eram inventadas pelos colunistas botafoguenses.
Entrevista realizada pelo jornalista Marco Lacerda no programa FrenteVerso, que vai ao ar aos domingos, às 21h, pela Rádio Inconfidência FM (100,9), de Belo Horizonte 

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