sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Vozes d'África

Mia Couto
Aos poucos, vou perdendo a língua dos homens, tomado pelo sotaque do chão. Na luminosa varanda deixo meu último sonho, a árvore de frangipani. Vou ficando do som das pedras. Me deito mais antigo que a terra. Daqui em diante, vou dormir mais quieto que a morte.

A Varanda do Frangipani

Nascido na Beira (Moçambique), a 5/7/1955, Mia Couto é considerado um dos nomes mais importantes da nova geração de escritores africanos que escrevem em português. Este estatuto incontestado deve-se não só á forma como descreve e trata os problemas e a vida quotidiana do Moçambique contemporâneo, mas principalmente á inventiva poética da sua escrita, numa permanente descoberta de novas palavras através de um processo de mestiçagem entre o português "culto" e as várias formas e variantes dialectais introduzidas pelas populações moçambicanas. Mia é assim uma espécie de mágico da língua, criando, apropriando, recriando, renovando a língua portuguesa em novas e inesperadas direcções. Tem, devido a essa autêntica revolução de inventiva linguística, sido muito apropriadamente comparado a um outro grande mágico da Língua Portuguesa do século XX, o escritor brasileiro João Guimarães Rosa.
Posteriormente, estudou medicina e biologia e é actualmente biólogo na reserva natural da Ilha da Inhaca, em Moçambique.
A escrita tem sido uma paixão constante, desde a poesia, com que se estreou em 1983, até á escrita jornalística e á prosa de ficção.

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Ndalu de Almeida Ondjaki



Ondjaki nasceu em Luanda, em 1977.

Prosador e poeta, também escreve para cinema e co-realizou um documentário sobre a cidade de Luanda (“Oxalá cresçam pitangas – histórias de Luanda”, 2006). É membro da União dos Escritores Angolanos e da Associação Protectora do Anonimato dos Gambuzinos. Alguns livros seus foram traduzidos para francês, espanhol, italiano, alemão, inglês, sérvio, sueco e chinês.

Ondjaki, já pertence ao “clube dos trintões . É simpático, embora o seu tom reservado não honre o lado comunicativo dos angolanos. Prefere ser tratado pelo pseudónimo, já que o nome está reservado para a intimidade familiar. Escreve poesia quando ela acontece e através da prosa desnuda a vivência urbana de Luanda, à qual está preso por força de uma juventude prisioneira da guerra.
Espreitei as aulas, constatei que a bibliografia era obsoleta e os professores eram uns cretinos, então disse para mim próprio: aqui não dá! , bateu a porta ao curso de Comunicação Social, à partida o mais talhado para a sua paixão pela escrita. Em Lisboa licenciou se em Sociologia, sem qualquer prazer e como último recurso. Hoje teria escolhido o curso de pilotagem, podia viajar, escrever e pilotar, que são três coisas muito interessantes . Oleiro seria a segunda opção, mas o teatro e a pintura também não são deixados de parte na sua lista de amores.

DUAS HISTÓRIAS INFANTIS

Embora pertença a uma geração de rappers, nunca se sentiu atraído pelo movimento hip hop, mas ouve, estuda as letras e prefere o rap underground de McK ou Keita Maianda. As pessoas julgam nos mal, acham que os rappers são do contra. Mas não é nada disso. Normalmente as pessoas nem ouviram a letra toda. A arte faz se com exagero e no fundo o que interessa é se aquilo que eles dizem tem ou não um fundo de verdade. A arte faz se de movimentos dilacerantes exponenciais, não é uma linha ténue, calma, no horizonte. Isso não é arte! , confessou Ondjaki.
O autor cresceu no bairro Alvalade, na Maianga e entre as preocupações sociais olha as crianças como a esperança da intervenção. Com a intervenção social e cultural junto das crianças poderemos semear coisas boas para o futuro”, defende o escritor, que actualmente faz um desvio à sua tendência natural de escrita. Essa preocupação resultou em duas histórias infantis: Ynari: A menina das cinco tranças e O Leão e o Coelho Saltitão, livro baseado num conto tradicional do Moxico e que está prestes a ser lançado em Angola pela Nzila.

Fonte: O País - Luanda

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