sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Adélia Prado

O PAPEL DA MULHER?: Eu acho que a glória do feminino, continuo achando, é uma discussão complicada, porque mexe nos afetos, não é? Toda vez que você cuida disso, você não dá conta de ficar só no acadêmico ou na filosofia. Você mexe nos afetos, nas minorias espoliadas, aí vem tudo junto e ninguém pensa mais, começa: “Ah, um absurdo”. Mas eu acho exatamente isso. O feminino... assim como o ato criador é masculino, para mim, eu sinto as coisas assim, o papel do feminino é o papel do segundo lugar, é o do segundo, é o do serviço, do anonimato mais perfeito. É isso que para mim é o feminino. É a permissão para que o homem aconteça. É que, no caso, num sentido muito profundo mesmo. Sem isso, se nós, mulheres, aqui no caso, que somos até aparentemente, externamente mulheres, se esse feminino não se realizar em nós, da ordem espiritual e psicológica, o homem que está do meu lado não acontece. Porque há uma – como é que se fala? –, uma diluição dos papéis. Eu acredito que há um papel feminino, sim, e que é o papel do serviço. Agora, é muito fácil confundir o papel do serviço com escrava, doméstica etc, como confundir aquilo que eu disse, que o ato criador é masculino, [achando que] é macho. É a mesma confusão que se faz.

EDUCAÇÃO RELIGIOSA NA ESCOLA: Não, de jeito nenhum. Não acho, não. Eu fui professora de educação religiosa e eu achei toda a experiência muito equivocada. Tal qual educação, acho que deveria tirar das escolas: educação artística, ensino religioso, moral e cívica. Você vê, por exemplo, a precariedade dessas disciplinas. Moral e cívica, por exemplo, é para ensinar a cidadania, não é? E eu aprendi, acredito que aprendi, absorvi as primeiras noções de moral e cívica, foi lendo os poemas de Olavo Bilac: “Criança, ama com fé e orgulho a terra em que nasceste”. A gente olhava, decorava a poesia e falava, quer dizer, aquilo era passado de uma forma tão prazerosa. Agora, você ter uma disciplina para ensinar moral e cívica ou religião? Eu acho que todo currículo escolar deve permitir o despertar da sensibilidade religiosa, artística e civil etc, mas isso em um conjunto. É como dar aula de futebol na escola, ou aula de samba, essas idiotices... não tem... Eu acho que é muito equivocado o ensino religioso.

Entrevistada no programa Roda Viva - TV Cultura.

http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/716/entrevistados/adelia_prado_1994.htm


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Raimundo Carrero




CATÓLICO, ACUADO E PREMIADO
Para Carrero, até a paixão é sofrimento, uma violência, um defloramento, a consumação traz a dor, talvez pelo vazio do orgasmo. “O que me preocupa, que me carrega e me impulsiona é a capacidade da irrealização, como se isso nunca fosse acontecer e que de repente fosse acontecer agora. Ou eu resolvo agora ou não resolvo mais nunca. Não tenho nenhuma perspectiva de futuro. Não penso no que vou fazer amanhã, até porque a vida fica escura dentro de mim, muito fechada.”
A saída que ele encontra é pela fé? “Sou um homem fervoroso, gosto, me dou muito bem com Deus e Deus se dá muito bem comigo. Eu rezo todos os dias. Vou ao terço. Tenho grande fé em Nossa Senhora e em minha mãe.”
Mesmo na hora de escrever Carrero se sente acuado, não pelo Recife. Mas pela vida. “Sou uma pessoa que vive acuada pela vida. Viver para mim é complicado, é pesado. Sou uma pessoa que carrega um doido nas costas, eu tenho que conciliar meus problemas com minha loucura. Sou uma pessoa que tem medo de elevador, de escuro, de gente (muita gente me maltrata)... viver para mim é um tormento muito grande. Eu não tenho nenhuma felicidade de viver, não. E ao mesmo tempo essa carga é para mim uma benção divina, porque só a partir dessa força que eu tenho que fazer é que eu consigo escrever. A minha força vem da força de ter que viver. Viver é irritante, é complicado.”
"A minha alma é irmã de Deus" (Editora Record) do escritor pernambucano Raimundo Carrero foi escolhido o melhor livro do ano no Prêmio São Paulo de Literatura 2010. Jornalista e escritor, Raimundo Carrero de Barros Filho nasceu em Salgueiro, município do Sertão de Pernambuco (513 km do Recife), no dia 20 de dezembro de 1947.

LEIA MAIS:
http://www.continentemulticultural.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1206

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Arte: Calendário poético - Capas de Livros


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Tel. [41] 3076-7631

6 comentários:

zan disse...

Religião, como existe por aí, é a maneira mais difícil de se chegar a Deus... Religião tem a ver com quase tudo, menos com Deus... Deus sou eu, você, o criminoso que acabou de estrangular sua vitima, o padre ou pastor que tá enganando seus fiéis a respeito de Deus... enfim, Deus não tem nada a ver com religião...

Enoch disse...

Concordo com o moço(a) que disse que Deus é injustiçado pelos espertalhões das religiões. Do Vaticano ao Japão, principalmente a católica acelerou o processo de conversão ao ateímos. Também pudera, com um Deus que é "vendido" assim! E aí entra os Edir Macedo...

Aurora Trancoso disse...

Taí que eu não sabia que uma das minhas escritoras preferidas põe Dogmas inventados por papas, acima da Palavra de Deus escrita na Bíblia; que eu não sabia que a católica nunca tinha lido a Bíblia; que eu não sabia que a Criação, segundo a “beata”, é Masculino; e, por fim, que a pessoa que escreve tão belas páginas, no fundo, é fã do mago Paulo Coelho? Meus Deus, me enganaram de novo?

Fabrício Sanchez disse...

BRAAVO,tchê! Gostei muito. Te proponho que faças caricaturas de nossos escritores da antiga e mande para a organização do evento.
Só uma sugestão.
Buenas!

Morgana disse...

Este cara não é australiano? kkk

Raimundo Carrero disse...

Obrigado pelo artigo, amigo.

Abs de Carrero

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