sábado, 16 de outubro de 2010

Plínio Marcos


Autor maldito de assuntos malditos como homossexualismo, marginalidade, prostituição e violência, Plínio Marcos foi um dos primeiros a retratar a vida dos submundos de São Paulo. De família modesta, Plínio Marcos não gostava de estudar e terminou apenas o curso primário. Foi funileiro, quis ser jogador de futebol, serviu na Aeronáutica e chegou a jogar na Portuguesa Santista, mas foram as incursões ao mundo do circo, desde os 16 anos, que definiram seus caminhos. Atuou em rádio e também na televisão, em Santos.
Em 1958, por infuência da escritora e jornalista Pagu, começou a se envolver com teatro amador em Santos. Nesse mesmo ano, impressionado pelo caso verídico de um jovem currado na cadeia, escreveu sua primeira peça teatral, Barrela. Por sua linguagem crua, ela permaneceria proibida durante 21 anos após a primeira apresentação.

Crítica de CLÁUDIO PUCCI
Folha de São Paulo 12/07/1980

O ser humano à luz de um abajur lilás

Um atentado à moral e os bons costumes. Foi isso que a censura fez ao proibir em 75 “O Abajur Lilás” de Plínio Marcos, agora (1980) em cartaz, sem cortes, no Teatro Aliança Francesa da rua General Jardim. Porque não há moral que se pretenda humana, que possa rejeitar, como quem limpa as caspas no ombro, o conhecimento do ser faz parte dos bons costumes, pelo menos democráticos, deixar que adultos decidam, sem nenhuma “proteção” policial, o que querem ou não querem ver, por exemplo, no teatro.
“O Abajur Lilás”, vítima desse atentado (não é a única), não é a mera reportagem do submundo e suas relações de poder, expostas pela narração da história “banal” de três prostitutas (Dilma, Célia e Leninha) dominadas e exploradas por um homossexual (Giro) com a ajuda, decisiva, de seu imponente e violento guarda-costas (Osvaldo). “O Abajur Lilás” não é também a alegoria da situação política brasileira do fim dos anos 60 (a peça foi escrita em 69) sob a escalada da repressão. “O Abajur Lilás” é uma reflexão em forma de teatro sobre o ser humano, seus limites, paixões, fracassos, esperanças e porque é isso, e é bom teatro, contém o retrato do submundo, a alegoria política, e até mais se quiserem, mantendo-se vivo (também pela permanência, no essencial, dos problemas que levanta) como inquietante transparência deste momento. E fica impossível (bem feito) discutir ainda, dentro desse quadro, se Plínio Marcos é ou não é pornográfico (o pornô é mais embaixo).

Um comentário:

Mauriângela disse...

O clima aqui no Picinez está deliciosamente pesado. Excelente,estamos todos de parabéns pelo aparecimento de mais este talentoso blogueiro.

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