domingo, 17 de outubro de 2010

Nelson Rodrigues


Entrevista de Nelson, feita em agosto de 1977 para a revista Manchete.

Nelson Rodrigues — Este meu livro (O Reacionário) é uma das coisas mais sérias que já fiz na minha vida. Antes de falar de mim, mal ou bem, o sujeito deve ler o meu livro para saber o que eu acho, para saber do meu anticomunismo, saber do meu horror a Marx... Marx não toma conhecimento da morte. E nós exigimos de Marx a devolução de nossa alma imortal. Tudo isso está no livro. Agora, eu tenho uma virtude única, que é a seguinte: não tenho medo de passar por reacionário. Querem me chamar de reacionário, chamem; querem me pichar como reacionário, pichem; querem me pendurar num galho de árvore como ladrão de cavalo, pendurem. Mas eu sou homem que não aceita essa impostura gigantesca dos chamados países socialistas. Por mais que eu tenha horror da política, há muita política no meu livro. Eu acho que a política corrompe qualquer um, mas ela é um fato. Alias, vocês querem saber de uma coisa? Eu comecei a ficar anticomunista aos 11 anos de idade. Eu era um rato de jornal e nessa ocasião comecei a freqüentar o jornal A Nação, do Leônidas de Rezende, um comunista tremendo. Então, um dia assim sem mais nem menos, um rapaz me disse que, se o partido mandasse, ele estrangularia a sua própria mãe. Era só o partido mandar. A ONU, por exemplo, não considera o Brejnev um canalha. Para ela, o fato d e existirem intelectuais internados em hospícios não representa um ato atentatório aos direitos humanos. Agora, vou te dizer uma coisa: eu pensei muito quando dei ao meu livro o título de O Reacionário. Porque no duro, no duro, eu não sou reacionário. A mais cruel forma de reacionarismo está nos países socialistas, na Rússia, em Cuba, na China, etc. Realmente, eu sou um libertário. Veja você: dois pobres-diabos cidadãos soviéticos seqüestraram um avião para deixar o paraíso e foram parar na Finlândia. Entregaram-se ao governo finlandês, que os devolveu ao Brejnev. Vão ser naturalmente fuzilados. Pois bem: quem protestou contra isso? Onde está o manifesto dos intelectuais com 3.999 assinaturas? No duro, eu sou um libertário. Eles, marxistas, é que são reacionários. Repito mais uma vez: os marxistas é que são reacionários.


BRINCADEIRIIINHA!!!

Capa/charge de minha autoria para ilustrar o post.

Contatos:
[41]3076-7631

9 comentários:

Célia Maria Maciel disse...

Oi, tenho gostado muito deste blog. Gosto de saber sobre os escritores (as) e alguma crítica. Além disso, é um blog de muito bom gosto, charmoso e não é cansativo.
Abraço,
CeliaM

Tania Melo - P. Alegre (RS) disse...

João, amigo, estou ficando cada vez mais encantada e certa de que, em muito pouco tempo, brilharás em NEON. Acredite, pois, além de enorme talento, tens garra, muita garra, e mais pareces uma cachoeira que despenca do alto, inundando tudo com sua água cristalina, que nos enche os olhos e ensopa a alma a cada vez que visitamos teu blog. MANDA BRASA, AMIGO. Vai que é tua, JOÃO"!!!!!!!!
abração,

Yara Camillo disse...

João de Deus, que boa viagem acabo de fazer pelo seu blog, eu que quase não passeio por esses territórios.
Parabéns pelo trabalho.
Envio em anexo dois "ensaios de Poesia" criados sobre desenhos de Wilson Neves, que fazem parte de meu livro "Volições" (Massao Ohno Editor, 2007). Envio também um conto, "Naufrágio", também escrito a partir de um desenho (em anexo) do Wilson.
Um grande abraço,

Paty Floripa disse...

O "taradão" não fumava não, ele comia cigarros e escarrava ódio ao socialismo.

LOUCA PELA VIDA disse...

Bom... bom: sem mais palavras. Grande Abraço

Fabrício disse...

Olha, esta capa para o Nelson deveria ser a quarta capa dos maços de cigarros que chegaram a ser vendido até na farmácia da esquina da minha casa, até bem pouco tempo. Grande sacada.

zan disse...

Nelson Rodrigues chutou na trave... O que ele foi a vida toda e nunca reconheceu tanto quanto reconhece que é reacionário: nunca deixou de ser um canalha, coisa que herdou do pai, que herdou do pai, avô dele... é só ler a biografia dele escrita por outro canalha, Ruy Castro... Alguns personagens de Nelson eram inspirados em sua própria personalidade; Palhares, o canalha, que habitou assiduamente suas crônica, era um espécie de alter ego dele... Nem por isso era menos gênio como escritor... mas bajulou escandalosamente patrões como Roberto Marinho... Quando descobriu que o filho guerrilheiro preso era torturado pelos gorilas fardados que defendia em sua coluna, covardemente se omitiu sobre isso em público...

Zenaide Fagundes disse...

CARACA!!! OS CANALHAS ENVELHECEM, É VERDADE.

zan disse...

...mas invariavelmente, morrem, Zenaide... o que não morre mesmo é a canalhice humana...

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