segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Vianinha


Oduvaldo Viana Filho (1936-1974) viveu apenas 38 anos, tempo suficiente para ser reconhecido como um dos maiores nomes da história da dramaturgia brasileira. Autor, ator, pensador do teatro e agitador cultural, Vianinha procurou criar um teatro que refletisse os problemas das classes populares brasileiras, procurando formas de expressão que  estimulassem atitudes críticas diante desses problemas.
     Vianinha estreou no teatro em  1955,  atuando como ator na peça Rua da Igreja, de Lennox Robinson. Desde então participou dos mais importantes grupos de teatro da época, como o Teatro Paulista do Estudante (1954-1955), o Teatro de Arena (1955-1960) e o Centro Popular de Cultura da UNE (1960-1963), sendo um dos criadores deste último.
     Espírito polêmico e combativo, Vianinha inspirou-se em Brecht  para criar peças que lhe permitissem uma investigação crítica da realidade histórica brasileira, buscando uma forma teatral coerente com as transformações sociais e políticas pelas quais sempre lutou. Destacam-se, em sua extensa obra dramatúrgica, as peças Chapetuba Futebol Clube (1959), A Mais-Valia Vai Acabar, Seu Edgar (1960), Auto dos 99% ou Como a Universidade Capricha no Subdesenvolvimento (1962), Os  Azeredo mais os Benevides (1963),  Papa Highirte (1968) e Rasga Coração, sua última peça, concluída no leito de morte, em 1974. Segundo o crítico teatral Sábato Magaldi, as principais qualidades da obra de Vianinha são “a sensibilidade, a delicadeza, a finura psicológica, o diálogo de bom  nível literário e a firmeza ideológica na análise dos problemas sociais”, características que dão às suas peças uma riqueza poética que continua fascinando platéias por todo o Brasil, quase 37 anos após a sua morte.
Repleta de músicas e de gírias das épocas de 30 e 60, fruto de uma meticulosa pesquisa lingüística e historiográfica, Rasga coração é apontada como a obra prima de Vianinha, podendo ser considerada a síntese de todo o seu trabalho dramatúrgico. No prefácio da obra, o autor apresenta os objetivos da peça:  “Rasga Coração é uma homenagem ao lutador anônimo político, aos campeões das lutas populares; preito de gratidão à Velha Guarda, à geração que me antecedeu, que foi a que politizou em profundidade a consciência do País. (...) Em segundo lugar, quis fazer uma peça que estudasse as diferenças que existem entre o novo e o revolucionário. O revolucionário nem sempre é novo e o novo nem sempre é revolucionário.” Certamente, esses objetivos foram atingidos por Vianinha, apesar de não poder ter visto a encenação de sua obra-prima, pois morreu poucos dias após a conclusão da peça.

Maria Silvia Betti

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Capa de autoria minha para ilustrar o post.


[41]3076-7631

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