sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Autran Dourado

Meus personagens se parecem muito comigo. Eu os conheço muito bem e sofro a angústia que eles sofrem. Não tenho nenhum prazer em escrever. Depois de pronta a obra, aí me dá uma certa satisfação, mas a mesma que dá quando se descarrega dos ombros um fardo pesado. [...] (Escrever é) também uma fatalidade. Você é destinado à literatura, e não a literatura a você.

Um dos grandes ficcionistas brasileiros dos anos de 1960 e 70, é autor de um estimado livro de contos, Solidão, solitude (1972) e de vários romances importantes como Uma vida em segredo, 1964, A barca dos homens (1961), Ópera dos mortos (1967), O risco do bordado (1970) e Os sinos da agonia (1974). A obra de Autran Dourado se caracteriza – na feliz expressão de um crítico – por sua “intrínseca mineiridade, isto é, por uma tendência introspectiva, em que os seres se debatem sem encontrar saída, “enjaulados em atmosferas cinzentas, acossados pelo desentendimento, pela decadência e pelo estigma da morte” (Massaud Moisés).
Dois destes romances (Ópera dos mortos e Os sinos da agonia) situam-se em um patamar de realização superior, seja pela linguagem obsessivamente trabalhada, seja pela revelação de mundos espectrais e doentios nos quais os indivíduos são arrastados pela forças dos instintos rumo à destruição. Em Ópera dos mortos, no sobrado decadente da família Honório Cota, vive Rosalina, a última remanescente de uma estirpe em extinção, acompanhada apenas de uma empregada muda, Quiquina, e de um agregado, Juca Passarinho. A paixão erótica que a patroa nutre por Juca Passarinho é proporcional ao desprezo que ela vota a esse subalterno social. Todavia a gravidez da orgulhosa Rosalina surge como um golpe terrível na vida das três habitantes do casarão, desencadeando o crime e a loucura.

Em Os sinos da agonia, a ação transcorre na Vila Rica do século XVIII, mas a circunstância histórica (a decadência da sociedade aurífera) é meramente circunstancial. Não se trata de um romance histórico e sim de uma narrativa voltada para a análise e o contraste dos caracteres individuais, especialmente os de Malvina e os de Gaspar. Segundo um crítico, em Os sinos da agonia “a vida das criaturas está cifrada numa sucessão labiríntica que vai do adultério ao assassinato, da ambição dissimulada à loucura e ao suicídio, das secretas intrigas familiares à delação pública. Autran Dourado escreveu o romance da traição” (Flávio L. Chaves - Educa Terra)

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Autran Dourado nasceu em 1926, em Patos de Minas (MG). Recebeu seu primeiro prêmio literário em 1942 com o conto "O Canivete de Cabo de Madrepérola". Publicou sua primeira obra, a novela Teia, em 1947. Dois anos depois, formou-se bacharel em Direito e casou-se com Maria Lúcia Compus Christo, com quem teve quatro filhos. Desde 1954 vive no Rio de Janeiro, onde foi assessor do presidente Juscelino Kubitschek. 
Prêmios: Artur Azevedo, Pen Clube do Brasil, Prêmio Jabuti de 1982; recebeu do governo alemão o Prêmio Goethe de Literatura. Em 2000, Autran Dourado foi o vencedor do Prêmio Luís de Camões, maior premiação para escritores de língua portuguesa. 

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