sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O Invasor de Marçal Aquino


Tony Belotto

Marta Garcia, minha prestimosa editora, me convida a escrever o texto da quarta capa de O invasor, de Marçal Aquino. Marçal é um amigo de muito tempo e papo, o escritor mais gente boa do pedaço, capaz de harmonizar e apaziguar as mais discrepantes e furiosas correntes e desavenças literárias com sua conversa mansa de matuto guimarãesroseano. Já rabisquei há alguns anos a orelha de outro livro dele, Faroestes, publicado por outra editora. O motivo pelo qual fui convidado a escrever a orelha de Faroestesé interessante: logo que li O amor e outros objetos pontiagudos (o primeiro Marçal a gente nunca esquece), fiquei impressionado com o talento e a força de sua escrita. Comentando o fato com uma amiga comum, marcou-se um jantar para que nos conhecêssemos.
Com o Marçal você vira um velho amigo em 15 minutos — se tiver uma cachacinha na mesa, talvez em 10 minutos. O que justifica que antes mesmo de pedirmos os pratos no tal jantar, já estivéssemos trocando confidências sobre nossos novos trabalhos, os livros que cada um escrevia na época. “Qual o título do livro novo?”, eu perguntei. “Faroestes“, ele disse. “Caralho! O meu também!”. Na época eu escrevia o romance que viria a ser imortalizado (ui!) como BR 163, mas que foi escrito como Faroeste. Antes que a amizade nascesse, eu e Marçal nos deparamos com um impasse: nossos livros, que estavam prestes a ser lançados, tinham o mesmo título! Corríamos o risco de ver uma recém nascida amizade acabar num duelo.
Antes que eu sugerisse um prosaico par ou ímpar para resolver a questão, Marçal, com sua sabedoria de rei Salomão de botequim, desenvolvida em anos e anos de jornalismo policial e outras profissões pontiagudas (como dizia Hemingway, “excelentes, desde que abandonadas a tempo”), disse: “Quem publicar primeiro, leva o título”. Nada mais justo. Com a rapidez de um Billy The Kid, logo que saiu do jantar Marçal sacou sua caneta (sim, ele escreve a mão) e terminou o livro antes que eu pronunciasse Pindamonhangaba. E assim levou o título. Como consolação, ganhei o privilégio de escrever orelhas e quartas capas de excelentes livros, além de poder compartilhar cachacinhas com o autor sempre que os eventos literários em que nos encontramos se tornam literários demais.

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Tony Bellotto, além de escritor, é compositor e guitarrista da banda de rock Titãs. Seu novo livro, No buraco, foi lançado pela Companhia das Letras em setembro de 2011.

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