quarta-feira, 4 de abril de 2012

Montanha de Fantasmas



Apesar de, ou justamente por causa de sua ambivalência política, filosófica e biográfica, Thomas Mann permanece uma das grandes personalidades do século 20. Ao falecer em 12 de agosto de 1955 em Zurique, aos 80 anos de idade, Thomas Mann contava como um dos maiores representantes da cultura germânica. Durante toda a vida, cuidara com extremo esmero de sua imagem pública, criando um ícone que contribuiu pessoalmente para abalar 22 anos mais tarde, com a publicação – autorizada por ele próprio – de seus diários.
Neles Mann figura como um autor vaidoso, doentio e inclinado a fantasias homoeróticas. Um fato que, contudo, não diminuiu em nada o apreço de seus leitores.
Segundo o professor Hermann Kurzke, biógrafo e especialista na obra de Thomas Mann, o autor se sentia perseguido por uma tendência erótica que não queria, nem podia realizar. Apesar dessa constelação trágica, ele manteve certa distância irônica, dando forma artística ao poder do instinto sexual, realizando até certo grau essas fantasias em sua obra.
Apesar de sua homossexualidade, Mann manteve um casamento e teve numerosos filhos com sua esposa, Erika. Assim, alcançou uma distância talvez ainda maior em relação a seus desejos do que se houvesse escolhido o celibato. Trata-se de uma ironia, mas ao mesmo tempo uma concessão, a aceitação da necessidade de cumprir seus deveres burgueses.
A obra de Mann está povoada de figuras que, contrariando os próprios desejos e instintos, cumprem suas obrigações de cidadão, assim como o autor. Assim, em Os Buddenbrooks ele narra o processo de decisão da protagonista Tony de esposar um homem que na verdade considera asqueroso. Ela sacrifica suas inclinações e a si mesma, em nome do dever. O aspecto burguês da ironia manniana consiste em admitir heróis, mas não o heroísmo em geral.

Pássaro caído do ninho


Na realidade, a vida de Thomas Mann não podia estar mais distante da tranqüilidade burguesa de algumas de suas personagens. Ele nasceu numa abastada família de comerciantes de Lübeck, em 6 de junho de 1875, o segundo de cinco filhos.
Mau aluno, não conseguiu passar no abitur (exame conclusivo do segundo grau). Seu pai, secretário de Finanças da cidade, faleceu quando Thomas contava 16 anos de idade. Três anos mais tarde, mudou-se com a mãe, a brasileira Julia Mann (natural de Angra dos Reis, nome de solteira: Bruhns da Silva), para Munique.
Nas palavras de Kurzke: “De certa forma, ele era um pássaro caído do ninho, o ninho da burguesia. Com a morte do pai, acabou-se esse seu mundo de origem. Na prática, Thomas Mann era uma espécie de boêmio e, ao que tudo indica, não sabia lidar bem com esse ‘não-pertencer-a-lugar-nenhum’. Tenho a impressão de que ele deveu a esse choque inicial o estímulo de reconquistar a posição de seus ancestrais”.
Com o início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, o escritor decidiu engajar-se na política, e partilhava da euforia bélica generalizada. Entretanto seu entusiasmo arrefeceu com a derrota alemã e o fim do Império. De modo gradual, porém certeiro, ele se converteu ao republicanismo, até simpatizando abertamente com o socialismo.

Do nazismo para o mccarthysmo


 Neste ponto, publicou seu segundo grande romance, A Montanha Mágica, que lhe rendeu reconhecimento mundial. Em 1929, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. Thomas Mann queria manter distância dos nazistas, que assumiram o poder na Alemanha em 1933. De início, porém, tentou arranjar-se com eles, para não ter que abandonar sua amada terra natal.
Forçado a fugir para os Estados Unidos em 1938, mais tarde ele afirmou: “Onde estou, é a Alemanha”. Sua maior obra, José e seus Irmãos, data dessa época de exílio. Em 1947, publicou o emblemático Doutor Fausto, em cuja trama filosófico-fantástica entremeou as idéias do compositor Arnold Schönberg sobre a música contemporânea. Mann se empenhou com veemência contra os criminosos nazistas, e após o fim da Segunda Guerra pretendia permanecer nos EUA.
Porém a caça aos comunistas iniciada pelo senador Joseph McCarthy também atingiu o autor alemão, que jamais fizera segredo de suas simpatias pela União Soviética. Ele e a esposa Erika temiam ter que viver um novo totalitarismo e deixaram os EUA em 1950.
Viajando pela Europa, Mann recebeu todo tipo de homenagens e honrarias. Em 1954 estabeleceu-se na Suíça. Um ano mais tarde, em 12 de agosto de 1955, morreu de câncer pulmonar.

MAIS THOMAS MANN AQUI E AQUI



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