sexta-feira, 12 de novembro de 2010

RUTH ROCHA

A carreira de escritora veio aos 45 anos de idade e resultou, quase três décadas depois, em uma produção de peso: cento e trinta livros. Um deles tornou-se um marco na história editorial infantil no Brasil, com mais de um milhão de exemplares: Marcelo, marmelo, martelo, a história do menino que preocupava os pais por ser muito perguntador e por querer reinventar os nomes das coisas.

PRETO É POBRE?

Ruth Rocha: Isso foi uma pergunta de minha filha, que tinha... não sei se 6 ou 7 anos, e me perguntou por que preto é pobre. E eu fiquei já achando que eu devia de começar a explicar para ela certas coisas. E fiz um livro, fiz uma história que se chama Romeu e Julieta, que são duas borboletas de cores diferentes. Era um approach até simplista do problema, porque eu falava de borboletas que não podiam andar juntas, porque tinham cor diferente, mas foi meu primeiro passo em direção a uma... uma contação de histórias que depois eu assumi, e sempre com um sentido social.

SIMPLICIDADE

Ruth Rocha: É verdade, é verdade. Não só porque eu sou assim mesmo [Ruth ri], então escrevo com simplicidade, mas porque eu acredito que deva escrever com simplicidade. Eu gosto de pensar nisso, de fazer para as crianças uma obra compreensível, bem de acordo com o nível das crianças, com a capacidade de compreensão. Embora eu não tenha medo de assuntos que... nem sempre eram dirigidos às crianças. Eu acho que começou na literatura brasileira... quem começou esse movimento foi Monteiro Lobato, que já não pôs limites nos assuntos que ele abordou para crianças. Ele falou de política, ele falou de sociedade, ele falou de corrupção...ele falou de tudo que ele teve vontade de falar, sem nenhuma restrição. Agora, com aquele tom que estava ao alcance das crianças. E foi meu grande mestre.

ESCRAVIDÃO

Ruth Rocha: Ah, tem muitos assuntos. Eu tinha, eu tenho vontade de escrever, por exemplo, sobre escravidão. Eu escrevi um livro sobre escravidão, mas é um livro pequeno, não é um livro muito ambicioso. Eu tinha vontade de escrever mais alguma coisa, mas a inspiração nem sempre é... é acompanhada... quer dizer, a inspiração, a vontade nem sempre é acompanhada da inspiração. Quer dizer, nem sempre a gente tem uma história junto com aquela vontade. Então, fica esperando um pouco até que isso aconteça.

ENCOMENDAS

Ruth Rocha: Olha, eu uma vez aceitei uma encomenda. Eu tive uma conversa com o Caio Graco [Prado (1932-1992), editor, proprietário da Editora Brasiliense], ele queria fazer uma coleção que chamava Coleção do Arco da Velha. Ele, então, queria uma história sobre o arco da velha. Eu peguei e escrevi uma história que era um menino e uma menina que atravessavam o arco-íris e mudavam de sexo. Mas não era nada disso que ele queria, ele levou um susto [risos]. Ele queria uma história do arco-íris que no fim tinha um pote de ouro e tal; era isso que ele queria. Mas eu escrevi o que eu sentia, o que estava em mim escrever.

Entrevista concedida a Paulo Markun.

Um comentário:

ROSE LOUISE disse...

Olá

adorei conhecer um pouco mais sobre Ruth Rocha.
Este blog é maravilhoso, pois ensina muita coisa em pouco tempo.
Parabéns, João.

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