segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Ana Miranda


Nasceu em Fortaleza, Ceará, em 1951, e mudou-se para o Rio de Janeiro aos quatro anos de idade. Em 1959 foi para Brasília, ao encontro de seu pai, engenheiro, que trabalhava na construção da cidade. Em 1969 voltou para o Rio de Janeiro, a fim de prosseguir com seus estudos de artes. 
Vale lembrar que Ana Miranda tem uma longa história no cinema como atriz e roteirista. Foi uma índia em Como Era Gostoso o Meu Francês (1970/72) e protagonizou, com Jofre Soares, o longa-metragem A Faca e o Rio
, que o holandês George Sluizer realizou no Brasil em 1972. Desde 1999 Ana Miranda mora em São Paulo. 

Literatura - É o meu trabalho, é o meu alimento espiritual, é a minha vida, não poderia mais viver sem literatura, seja lendo, seja escrevendo. 

Biografias - Na verdade não escrevo biografias, são romances, em que poetas ou escritores são personagens, e o foco não é a biografia desses autores, mas o mundo em que eles viveram. Isso nasceu de meu amor pela poesia, e pela palavra, esses poetas que escolhi como tema são fontes literárias muito ricas. Meus personagens não são apenas escritores, são padres, prostitutas,governadores, índios, moças do interior, bandidos, etc, mas parece que o que tem marcado mais meu trabalho, para os leitores, é a presença dos personagens poetas e escritores. Falo sobre mundos em que a história literária é fundamental, sim, em alguns livros, mas há muito mais entre o céu e a terra... As biografias, em geral, mesmo quando objetivas, sempre têm um ar de romance, sempre que se usa a palavra para contar algo, a visão é muito subjetiva, porque a palavra é subjetiva. 

Notoriedade - Minha vida continua a mesma de sempre, gosto de escrever, escrever, escrever, e ler, ler, ler, e ficar em casa quieta escrevendo e lendo. Nem os prêmios, nem o filme, mudam minha vida, sinto que estou ficando cada vez mais conhecida, pelo Brasil afora, mas a minha vida continua a mesma.

Sensualidade - Não acho o Braço de Prata ardente ou sensual, nem o padre Vieira, nem a Bernardina Ravasco, nem a Feliciana, nem tantos outros. O que acontece é que o tema de Boca do Inferno é ardente e sensual, é a Bahia colonial, com muita devassidão, muitos pecados. Também a Amina, de Amrik, é muito sensual, pois é uma dançarina libanesa e há a presença da literatura árabe, as Mil e uma noites, o Jardim das delícias, que são livros ardentes e sensuais. Claro que gosto de lidar com essa matéria, tenho um lado sensual e ardente, todos temos, alguns escondem, alguns ignoram, mas todo ser humano é dotado de sensualidade. 

Livros - Não sei medir, sei que os livros são fundamentais, a literatura permeia tudo, desde sempre, e para sempre, não seríamos a humanidade que somos se não houvesse o livro. É uma peça de extraordinária profundidade na história da comunicação humana, um museu da alma, do intelecto, do espírito, do tempo, do sentimento, um museu da humanidade.

Público alvo - Não tenho público alvo, escrevo para mim mesma. As pessoas que gostam dos meus livros são as pessoas que têm afinidade comigo, com o que eu escrevo, mas são as mais variadas, só têm em comum o fato de serem alfabetizadas.  Quem gosta de ler sempre vai gostar de ler, a tecnologia não tem nada a ver com isso, apenas ajuda a se escrever mais facilmente um livro, a se imprimir melhor os livros, a se comprar mais facilmente um livro. Mas não há nenhum plano no sentido de usar a tecnologia para aproximar as pessoas dos livros, ou da boa leitura, o que seria muito bom, se acontecesse.

Influências - Não tenho ídolos, nunca tive, vejo os escritores como seres humanos, com suas peculiaridades. Claro, admiro profundamente certos textos, como os de Shakespeare, Kafka, Proust, Borges, etc etc, uma infinidade de autores e livros me encantam. E todos eles me influenciam, sou muito permeável a influências. 

Novos escritores - Você está falando da literatura brasileira, certamente. Acho que tenho mais afinidade com o Miltom Hatoum, acho-o maravilhoso, sério e profundo, mas gosto de muitos, muitos, o Cristóvão Tezza, o Bernardo Carvalho, a Patrícia Melo, o Carlos Sussekind, o Marçal Aquino, o Bernardo Ajzenberg, adoro a poesia de Marco Luchesi, acho-o surpreendente e elevado como o infinito, poderia fazer uma lista imensa, são muitos os escritores a destacar. 

Gêneros literários - Prefiro escrever romances, sou romancista, sinto mais desenvoltura quando escrevo romance, sinto que estou fazendo o que gosto de fazer, o que aprendi a fazer, não sou boa contista, são coisas muito diferentes. Isso não significa que meus romances excluam os outros gêneros, hoje os limites são muito difusos. Para ler, gosto, primeiro, de poesia, depois de romance, depois de conto, geralmente é assim, mas tem épocas em que só leio contos, e outras em que só leio poesia, e outras em que só leio romances, isso depende de meu estado de espírito.

Traduções - Acho horrível, arriscadíssimo, tenho a sensação de que não é mais o meu livro, não escrevi nada daquilo, gostaria que todos aprendessem português para ler os nossos livros no original. Mas sinto orgulho quando olho a minha estante de meus livros traduzidos, sei que isso é bom, mesmo com as deficiências inerentes à tradução. Tenho muita gratidão pelos tradutores, todavia, pois não falo nem árabe nem alemão nem grego nem russo, nem tantas outras línguas, e admiro demais os tradutores, há pessoas que fazem isso de forma genial.

Política - Tenho muito amor pelo pobre, pelo oprimido, por aquele que não tem oportunidade, pelo abandonado, pelo frágil, pelo fraco, um sentimento meio maternal. Não posso ver alguém em dificuldade, quero ajudar. Isso me faz sofrer muito. 

Compilado do http://www.resenhando.com – junho/2004

Um comentário:

Eloisa Antunes Maciel disse...

Grata pelo envio de relevante conteúdo literário.
Cumprimentos.

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