Escritora, professora da rede pública de ensino, mãe de cinco filhos, Adélia Prado foi muito além da sua pequena Divinópolis, impulsionada pela força da sua prosa e poesia, mas jamais saiu de lá. É da sua vida ordinariamente cotidiana, segundo suas próprias palavras, que ela tira a religiosidade, o brejeiro e o poético que marcam a sua obra. E de mais longe, de uma inspiração universal, veio o profano, o erótico e a angústia, que são o tempero áspero de seus livros.
O PAPEL DA MULHER?
Eu acho que a glória do feminino, continuo achando, é uma discussão complicada, porque mexe nos afetos, não é? Toda vez que você cuida disso, você não dá conta de ficar só no acadêmico ou na filosofia. Você mexe nos afetos, nas minorias espoliadas, aí vem tudo junto e ninguém pensa mais, começa: “Ah, um absurdo”. Mas eu acho exatamente isso. O feminino... assim como o ato criador é masculino, para mim, eu sinto as coisas assim, o papel do feminino é o papel do segundo lugar, é o do segundo, é o do serviço, do anonimato mais perfeito. É isso que para mim é o feminino. É a permissão para que o homem aconteça. É que, no caso, num sentido muito profundo mesmo. Sem isso, se nós, mulheres, aqui no caso, que somos até aparentemente, externamente mulheres, se esse feminino não se realizar em nós, da ordem espiritual e psicológica, o homem que está do meu lado não acontece. Porque há uma – como é que se fala? –, uma diluição dos papéis. Eu acredito que há um papel feminino, sim, e que é o papel do serviço. Agora, é muito fácil confundir o papel do serviço com escrava, doméstica etc, como confundir aquilo que eu disse, que o ato criador é masculino, [achando que] é macho. É a mesma confusão que se faz.
EDUCAÇÃO RELIGIOSA NA ESCOLA
EDUCAÇÃO RELIGIOSA NA ESCOLA
Não, de jeito nenhum. Não acho, não. Eu fui professora de educação religiosa e eu achei toda a experiência muito equivocada. Tal qual educação, acho que deveria tirar das escolas: educação artística, ensino religioso, moral e cívica. Você vê, por exemplo, a precariedade dessas disciplinas. Moral e cívica, por exemplo, é para ensinar a cidadania, não é? E eu aprendi, acredito que aprendi, absorvi as primeiras noções de moral e cívica, foi lendo os poemas de Olavo Bilac: “Criança, ama com fé e orgulho a terra em que nasceste”. A gente olhava, decorava a poesia e falava, quer dizer, aquilo era passado de uma forma tão prazerosa. Agora, você ter uma disciplina para ensinar moral e cívica ou religião? Eu acho que todo currículo escolar deve permitir o despertar da sensibilidade religiosa, artística e civil etc, mas isso em um conjunto. É como dar aula de futebol na escola, ou aula de samba, essas idiotices... não tem... Eu acho que é muito equivocado o ensino religioso.
Entrevistada no programa Roda Viva - TV Cultura.
Entrevistada no programa Roda Viva - TV Cultura.
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