Há dois anos o Brasil perdia um de seus grandes críticos
literários: o paulista naturalizado curitibano Wilson Martins, morto em janeiro
de 2010, aos 88 anos. Pensador da cultura brasileira de posições firmes, por
vezes polêmicas, ele dividiu opiniões, mas deixou ao país um legado inestimável
de reflexões sobre nossa produção intelectual, construído ao longo de mais de
meio século de uma disciplinada rotina de leituras diárias.
Em
homenagem a esse homem apaixonado pelas letras, que por muitos anos foi
colunista da Gazeta do Povo, o cineasta piauiense Douglas Machado realizou o
documentário Wilson Martins – A Consciência da Crítica, que fez sua estreia dia
10 de fevereiro deste 2012, no Museu Oscar Niemeyer (MON).
Mas não foi a morte de Martins que motivou o diretor a fazer o
filme. O projeto nasceu oito anos antes, quando Machado preparava o
documentário H. Dobal – Um Homem Particular, sobre o poeta do Piauí muito admirado
pelo crítico. Por meio de seu irmão, o jornalista Marden Machado, que há 20
anos vive em Curitiba, marcou uma entrevista. E o encantamento de Douglas e
Marden com o senhor que os recebeu em seu apartamento à Avenida João Gualberto,
no bairro Juvevê, fez com que ali nascesse o desejo de transformá-lo em
protagonista de um filme inteiro dedicado a ele, também a ser inserido na série
Literatura: Brasil, focada em nomes das letras
nacionais.
Wilson
Martins – A Consciência da Crítica, cuja direção de produção é assinada por
Gardênia Cury, teve como base e ponto de partida uma longa entrevista gravada
com Wilson Martins, em 2002. Os irmãos Machado contaram que, embora soubessem
da enorme importância de Martins e de sua obra, não a conheciam tão a fundo.
Recorreram, então, ao escritor, crítico e também colunista da Gazeta do Povo
Miguel Sanches Neto, que serviu como uma espécie de guia interlocutor dessa
entrevista e do projeto como um todo.
Nos
anos seguintes, foram promovidos novos encontros com Martins e entrevistas que
ajudaram Douglas e Marden, também produtor associado do filme, a alinhavar o
que eles chamam de “tecido de memórias” sobre a trajetória do crítico, que
jamais abandonou a máquina de escrever e desconfiava dos computadores.
Além
de Sanches Neto, foram ouvidos os escritores Moacyr Scliar, Luiz Antonio de
Assis Brasil, Affonso Romano de Sant’anna e um dos ex-alunos de Wilson Martins
na New York University, onde o crítico lecionara por três décadas, entre os
anos 1960 e 1990: o hoje professor Kenneth Krabbenhoft. Também são fontes
importantes os jornalistas José Carlos Fernandes, da Gazeta do Povo, e Márcio
Renato dos Santos, também escritor.
Indagado se o contato pessoal com o autor da monumental coleção
História da Inteligência Brasileira havia, de alguma forma, alterado a
percepção que tinha de Martins, Douglas é enfático. Já no primeiro contato,
ficou desconsertado com a forma calorosa e inusitada com que o crítico o
recebeu: “Não é todo dia que um cineasta piauiense bate à minha porta”.
Logo
caiu por terra a ideia preconcebida, construída a partir da leitura dos textos
densos de Martins, de que enfrentariam um intelectual sisudo e erudito, pouco
afeito a bate-papos. “Nos deparamos com um homem extremamente afável, educado e
gentil”, diz o cineasta.
Partidário
O
poeta Affonso Romano de Sant’anna afirma no documentário que talvez seja
inédito no mundo o incansável trabalho de Martins de não apenas escrever por
décadas sobre os livros publicados no país, mas também de inseri-los em um
fluxo histórico e social maior e mais complexo. Apesar de reverenciado por
muitos, o crítico também teve seus muitos detratores ao longo da vida. Douglas
disse que, como seu documentário não tem cunho jornalístico, ele preferiu
manter-se fiel à linha autoral adotada em todos os filmes que integram a série
Literatura: Brasil: “Sou partidário do escritor que escolhi”.
Com
Martins, o cineasta diz ter aprendido, sobretudo, a importância de “não passar
recibo”. No próprio documentário, o crítico afirma, em uma das entrevistas, que
sempre buscou manter um distanciamento das reações positivas ou negativas que
seus textos pudessem provocar – e, de fato, causavam. E, em um dos seus
depoimentos mais marcantes, diz que já havia escrito críticas positivas sobre
livros de escritores de quem pessoalmente não gostava muito, e tinha apontado
defeitos nas obras de autores de quem era amigo. Ossos de um ofício de fé.
Fonte: Gazeta do Povo (Curitiba-05/02/2012)
Caricaturas: João de Deus Netto
Um comentário:
Google na contra-mão do tempo. As pessoas cada vez mais querendo competir com a velocidade da internet no sentido de sobrar tempo para outras atividades, compromissos...Aí vem o BLOGGER do GOOGLE e impõe um monte de passos com letrinhas ridículas deformadas para o leitor TENTAR (brincadeira!) ficar "colando"!
Depois dessa, os leitores que comentavam pularam esta parte, com justíssima razão.
Se fosse um blog de política pra troca de insultos...
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